Pesquisa internacional compara a estrutura de vigilância genômica do SARS-CoV-2 entre países em diferente condição socioeconômica
Em uma pandemia de escala global causada por um vírus de rápido espalhamento como o coronavírus causador da COVID-19, a capacidade de sequenciamento e análise do genoma de cada país é um importante determinante de medidas nacionais, regionais e globais de vigilância e contenção de novas variantes virais. As respostas fornecidas por um sequenciamento abrangente e um depósito em tempo oportuno de genomas completos são importantes para identificar, por exemplo, o surgimento de novas linhagens, assim como a chegada de linhagens provenientes de outras regiões geográficas a um novo continente. Estas e outras respostas dependem, porém, das condições socioeconômicas de cada nação para o estabelecimento de uma vigilância genômica representativa, de forma que entender as disparidades na capacidade de vigilância entre países de diferentes níveis socioeconômicos é importante para identificar áreas com “apagão de dados”, para as quais a comunidade internacional poderia direcionar esforços no sentido de financiar e apoiar a formação de profissionais para a vigilância genômica.
O estudo aqui resumido comparou dados de sequências depositadas no GISAID por 189 países de diferentes continentes e indicadores socioeconômicos para determinar a diferença nas condições de vigilância entre países de alto poder econômico e aqueles em desenvolvimento, tanto em termos da representatividade do sequenciamento (ou seja, a porcentagem de amostras sequenciadas em relação à totalidade de casos confirmados) quanto da velocidade de depósito no banco de dados. As conclusões do artigo chamam atenção para a necessidade de fortalecimento da pesquisa em países de menor poder socioeconômico: enquanto 78% dos países ricos avaliados tiveram uma cobertura de sequenciamento igual ou superior a 0,5% dos casos, apenas 42% dos países em desenvolvimento atingiram este patamar, um número quase duas vezes menor. E a diferença também foi significativa em termos da demora entre a confirmação de um caso e seu sequenciamento e depósito no GISAID: enquanto aproximadamente um em cada quatro (25%) dos países desenvolvidos conseguiram um intervalo inferior a 21 dias, este marco da agilidade de depósito só foi alcançado por um em cada vinte (5%) países em desenvolvimento, um número cinco vezes menor.
As dificuldades enfrentadas por países de menor poder socioeconômico no que diz respeito a ter um sequenciamento representativo e ágil de amostras do SARS-CoV-2 (e de eventuais futuros agravos epidêmicos ou pandêmicos) representam um risco para a população global e, em especial, para as populações destas próprias nações, uma vez que estas informações são importantes para a elaboração de políticas públicas de saúde. O artigo embasa a necessidade de um maior investimento global para o fortalecimento da vigilância em nações com este perfil socioeconômico.
Brito, A. F., et al. “Global disparities in SARS-CoV-2 genomic surveillance.” Nature communications 13.1 (2022): 7003.