Estudo avalia como a imunidade a linhagens de SARS-CoV-2 do início da pandemia pode ou não proteger contra Variantes de Preocupação mais recentes
Uma das questões que surgem da evolução constante de patógenos como o coronavírus pandêmico SARS-CoV-2 é o chamado “escape imunológico”. Este fenômeno ocorre quando linhagens do vírus acumulam em seu genoma mutações que resultam em mudanças de estrutura de proteínas e outras moléculas reconhecidas por mecanismos do sistema imunológico, de forma que anticorpos e células do sistema imune não conseguem mais produzir uma resposta efetiva e proteger o organismo. Esta falha em proteger o organismo devido a mudanças nas moléculas-alvo pode ir desde uma resposta menos eficiente até um escape total, com pouca ou nenhuma redução no risco de contrair a doença e desenvolver sintomas após o contato com linhagens como as das chamadas Variantes de Preocupação (VOCs).
Uma das formas de entender o grau de preocupação associado a linhagens com mutações associadas ao escape imunológico é avaliar o soro de pessoas anteriormente infectadas com linhagens mais antigas do vírus para entender o quanto esses soros são capazes de neutralizar a infecção por linhagens de VOC em laboratório. Experimentos como estes permitem entender o escape imunológico, e detectar padrões no que diz respeito a linhagens que levam a uma resposta imune capaz de proteger contra um maior número de mutações. O artigo ao que este resumo se refere segue esta abordagem, analisando o soro de 20 pacientes previamente hospitalizados que haviam sido infectados com as variantes iniciais B.1.1.28 e B.1.1.33, ou pela VOC Gama (P.1) em ensaios de neutralização. Estes ensaios consistem em incubar outras variantes do vírus (no caso do artigo, um painel incluindo as variantes B.1, Zeta, N.10 e as VOCs Gama, Alfa e Delta) junto ao soro os pacientes, com a posterior análise do quanto a exposição ao soro afetou a infectividade das partículas virais, também em ensaios de laboratório.
Os resultados do estudo sugerem que os anticorpos de pacientes infectados com as variantes do início da pandemia conseguiam neutralizar parcialmente outras variantes, incluindo as VOCs testadas. Algo similar foi observado com o soro de pacientes infectados pela variante Gama, que foi capaz de neutralizar a infectividade de amostras da fase inicial da pandemia no Brasil. Porém, quando estes mesmos soros com anticorpos gerados em resposta à Gama foram testados contra outra VOC, a Delta, a capacidade de neutralização foi abaixo do limite de detecção dos testes. O artigo também contribui para o desenvolvimento do conhecimento científico ao testar com o SARS-CoV-2 um método para detecção de resposta imunológica cruzada utilizado para outros grupos de vírus como os flavivírus, ao chegar à conclusão de que esta técnica não é adequada para comparar a resposta cruzada entre linhagens do SARS-CoV-2.
Pauvolid-Corrêa, Alex, et al. “Sera of patients infected by earlier lineages of SARS-CoV-2 are capable to neutralize later emerged variants of concern.” Biology Methods and Protocols 7.1 (2022): bpac021.