Pesquisa da Rede Genômica Fiocruz compreende mecanismos por trás do rápido espalhamento de linhagens derivadas da Variante Gama do Novo Coronavírus
Após a segunda onda de contágio pelo SARS-CoV-2 no Brasil, marcada pelo surgimento e ampla disseminação da variante Gama (P.1), uma das preocupações da comunidade científica era com possíveis resultados da continuidade do processo evolutivo desta VOC. Mais especificamente, a possibilidade do surgimento de novos mecanismos que tornassem amostras derivadas da Gama mais transmissíveis, infectivas ou mais eficazes no processo de escape da ação de anticorpos neutralizantes reforçaram a importância da vigilância continuada da Gama e variantes derivadas.
O presente trabalho, resultado do processo de editoração e revisão independente dos dados anteriormente apresentados na forma de preprint, é derivado da análise dos genomas de 1188 amostras do SARS-CoV-2, a maioria das quais (99,7%) pertencentes à VOC gama. Houve um aumento expressivo da prevalência das amostras chamadas de “Gama +” — ou seja, aquelas que acumulam mutações adicionais em comparação com as amostras classificadas inicialmente como Gama, como fruto do processo evolutivo com a fixação dessas novas mutações. Uma destas variações da Gama, a chamada Gama+N679K, representa 76,9% das amostras analisadas referentes a Junho-Julho de 2021. O trabalho discute ainda a importância biológica de algumas das mutações encontradas, como as deleções no domínio da proteína S chamado NTD (que dificultam a neutralização pelos anticorpos produzidos pelo organismo em resposta a uma infecção ou vacinação) e mudanças na estrutura de outra região da proteína S, a junção S1/S2, que têm potencial — ainda em estudo pelos pesquisadores — de levar a uma maior infectividade devido a uma afinidade maior com o mecanismo molecular que permite ao vírus fundir seu envelope à membrana das células e iniciar a invasão celular (furina).
Estas amostras derivadahttp://www.genomahcov.fiocruz.br/glossario/#infografico-infeccaos da Gama, denominadas P.1.3, P.1.4, P.1.5, P.1.6, P.1.7 e P.1.8, embora estejam em um processo de expansão que pode torná-las mais prevalentes dentro da linhagem do que a Gama originária, e apesar de possuírem uma aparente maior transmissibilidade, não parecem ser mais eficazes na capacidade de escapar da ação de anticorpos — ou seja, causar reinfecções e/ou infectar pessoas previamente vacinadas. O artigo da Rede Genômica Fiocruz traz ainda o lembrete de que, enquanto o SARS-CoV-2 se espalha na população, o risco de selecionar novas variantes com maior infectividade deve aumentar.
Naveca, F. G., Nascimento, V., Souza, V., Corado, A. L., Nascimento, F., Silva, G., Mejía, M., Brandão, M. J., Costa, A., Duarte, D., Pessoa, K., Jesus, M., Gonçalves, L., Fernandes, C., Mattos, T., Abdalla, L., Santos, J. H., Martins, A., Chui, F. M., Val, F. F., Melo, G. C., Xavier, M. S., Sampaio, V. S., Mourão, M. P., Lacerda, M. V., Batista, E. L. R., Magalhães, A. L. A., Dábilla, N., Pereira, L. C. G., Vinhal, F., Miyajima, F., Dias, F. B. S., Santos, E. R., Coêlho, D., Ferraz, M., Lins, R., Wallau, G. L., Delatorre, E., Gräf, T., Siqueira, M. M., Resende, P. C., & Bello, G. (2022). Spread of Gamma (P.1) Sub-Lineages Carrying Spike Mutations Close to the Furin Cleavage Site and Deletions in the N-Terminal Domain Drives Ongoing Transmission of SARS-CoV-2 in Amazonas, Brazil. Virology.