Cooperação internacional de pesquisa foca-se em desvendar como se comporta o novo coronavírus na fronteira entre o Brasil e o Uruguai
Apesar de ter conseguido controlar o espalhamento do novo coronavírus — sendo um dos poucos países nas Américas a obter sucesso na contenção da pandemia — a proximidade com o Brasil apresenta um risco ao Uruguai. A alta mobilidade entre as fronteiras aliada à situação do Brasil como um dos piores países do mundo em número de casos e fatalidades são fatores que podem levar a múltiplas introduções do vírus ao Uruguai, além de propiciar a chegada de variantes mais contagiosas ao país.
O presente trabalho, resultado da revisão independente e editoração de um pre-print previamente publicado, relata os resultados da vigilância epidemiológica em cidades uruguaias interioranas na região fronteiriça com o Brasil e a reconstrução dos eventos de disseminação do SARS-CoV-2 no sentido Brasil-Uruguai. Utilizando genomas de 54 amostras do novo coronavírus colhidas em cidades uruguaias e 68 amostras brasileiras do Rio Grande do Sul, grupos de pesquisa de 15 instituições dos dois países conseguiram reconstruir um panorama caracterizado por múltiplas introduções de linhagens brasileiras da B.1.1.28 e da B.1.1.33 em cidades uruguaias fronteiriças. As cepas introduzidas no país provavelmente eram provenientes do estado brasileiro do RS, e começaram a circular localmente nestas cidades em menos de três meses (entre o início de maio, quando provavelmente ocorreram os primeiros eventos, e o meio de julho). Foi possível ainda constatar que as cepas que causaram surtos no Uruguai possuíam entre 4 e 11 alterações genéticas quando comparadas às cepas ancestrais brasileiras B.1.1.28 e B.1.1.33, o que dá suporte à ideia de que o genoma do novo coronavírus parece acumular mutações muito rapidamente em seu espalhamento rápido pela América do Sul.
Além de ser o primeiro estudo com dados de genômica focados nesta região, o estudo também evidencia que surtos causados nesta região interiorana decorreram da introdução de vírus a partir do Brasil, em contraste aos surtos em regiões metropolitanas do ano de 2020, associados a introduções do vírus a partir da Europa.
Mir, D., Rego, N., Resende, P. C., Tort, F., Fernández-Calero, T., Noya, V., Brandes, M., Possi, T., Arleo, M., Reyes, M., Victoria, M., Lizasoain, A. Castells, M., Maya, L., Salvo, M., Gregianini, T. S., Rosa, M. T. M., Martins, L. G., Alonso, C., Vega, Y., Salazar, C., Ferrés, I., Smircich, P., Silveira, J. S., Fort, R. S., Mathó, C., Arantes, I., Appolinario, L., Mendonça, A. C., Benítez-Galeano, M. J., Simoes, C., Graña, M., Motta, F., Siqueira, M. M., Bello, G., Colina, R. & Spangenberg, L.. Recurrent Dissemination of SARS-CoV-2 Through the Uruguayan–Brazilian Border