Estudo chega à conclusão inicial de que sintomas neurológicos associados à COVID-19 estão mais relacionados à inflamação do que à presença do vírus no Sistema Nervoso
A chegada de uma doença viral causada por um agente anteriormente desconhecido, como é o caso da COVID-19 causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, apresenta uma série de desafios a grupos de pesquisa das mais diversas áreas. Dentre as muitas questões a serem respondidas está a multiplicidade de apresentações que esta nova doença pode ter em pacientes infectados — ou seja: em quais partes e tecidos do organismo este vírus é capaz de se replicar? Quais os efeitos dessa infecção em cada parte do corpo? Como é a linha do tempo da infecção e do aparecimento de sintomas?
O artigo aqui resumido, publicado por pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz em colaboração com outros grupos de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, visa entender melhor o acometimento neurológico enfrentado por alguns pacientes da COVID-19 quanto aos efeitos e detectabilidade do vírus e quanto à linha do tempo da infecção e dos sintomas no Sistema Nervoso Central (SNC).
Segundo os achados do trabalho, quando os sintomas neurológicos começam a se apresentar, o vírus já foi praticamente eliminado do SNC, estando indetectável no líquor dos pacientes mesmo com a aplicação da técnica altamente sensível de RT-PCR. Estes resultados permitem traçar a hipótese de que, ao chegar ao SNC de pacientes, o SARS-CoV-2 é eliminado pelo sistema imunológico em menos de 14 dias — tempo médio de surgimento dos primeiros sintomas neurológicos — sugerindo que quadros como a meningoencefalite, a síndrome de Guillain-Barré e a encefalomielite estariam mais associados, no contexto da COVID-19, com a resposta inflamatória desencadeada em resposta ao vírus.
Espíndola OM, Brandão CO, Gomes YCP, Siqueira M, Soares CN, Lima MASD, Leite ACCB, Torezani G, Araujo AQC, Silva MTT. Cerebrospinal fluid findings in neurological diseases associated with COVID-19 and insights into mechanisms of disease development.