Estudo internacional com participação de pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz desvenda relação entre algumas mutações do Novo Coronavírus e a capacidade de escapar de anticorpos
Uma das principais preocupações da comunidade científica trazidas pelas novas variantes do SARS-CoV-2 é a possibilidade de que algumas das mutações presentes nas variantes de preocupação (VOCs) B.1.1.7, B.1.351 e P.1 confiram a estas linhagens a capacidade de escapar dos anticorpos gerados em resposta à infecção ou à vacinação. Esta publicação, fruto de cooperação internacional de pesquisa, avaliou os impactos de três alterações de aminoácidos na glicoproteína spike (proteína S), provenientes de mutações características das variantes P.1 e B.1.351 na neutralização por anticorpos do novo coronavírus. Estas três alterações (posições 417, 484 e 501) na estrutura da proteína S afetam a porção da proteína que se liga à ACE2, proteína presente na superfície de células humanas, e apenas uma delas (N501Y) está presente em outra VOC, a B.1.1.7.
Investigar o impacto destas alterações estruturais da proteína na neutralização da capacidade infectiva do vírus por anticorpos traz respostas importantes a respeito da relevância das mutações no chamado “escape imunológico”, uma vez que a ligação entre esta porção da proteína S e o receptor celular ACE2 é a primeira etapa no processo de infecção. O estudo concluiu que as alterações na proteína S da VOC P.1 parecem aumentar a capacidade da proteína em se ligar ao receptor ACE2, e que, por outro lado, reduzem a capacidade neutralizante de anticorpos gerados em resposta a amostras do SARS-CoV-2 sem as mutações. Comparados a uma amostra isolada no princípio da pandemia, as variantes P.1 e B.1.351 tiveram uma diminuição de aproximadamente 3 vezes na neutralização pelo soro de pacientes convalescentes ou vacinados contra o SARS-CoV-2, com os imunizantes da Pfizer-BioNTech e Oxford-AstraZeneca. Com base nesses achados, pode-se considerar que o risco de escape imunológico é real, embora as alterações da proteína S em circulação no momento não impeçam completamente a neutralização da infecção pelos anticorpos. Cabe ainda destacar que algumas vacinas, como a Oxford-AstraZeneca, induzem forte resposta celular e esse mecanismo também teria importante papel na reposta protetora. Ainda assim, a possibilidade de que mutações futuras nestes genes causem um escape ainda maior dos mecanismos da imunidade estimulados por vacinas é um risco que não deve ser ignorado, e medidas para diminuir a circulação do vírus são necessárias para reduzir as possibilidades de surgimento e espalhamento de alterações deste tipo.
Dejnirattisai, W., Zhou, D., Supasa, P., Liu, C., Mentzer, A. J., Ginn, H. M., … & Screaton, G. R. Antibody evasion by the P. 1 strain of SARS-CoV-2.