Artigo de pesquisa internacional, com participação de membros da Rede Genômica Fiocruz, demonstra a neutralização da linhagem B.1.617 do novo coronavírus pelo soro de pessoas vacinadas ou convalescentes de infecção anterior pelo SARS-CoV-2
Ao longo da pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2, a comunidade cientifica constatou o surgimento e espalhamento de inúmeras linhagens virais que, devido a pressões evolutivas e ao cenário epidemiológico em que tinham maior sucesso linhagens capazes de escapar da resposta imunológica desenvolvida por pessoas infectadas e/ou vacinadas, carregam mutações associadas a uma evasão da resposta imunológica. Isto se dá pelo fato de que anticorpos e outros mecanismos da resposta imune adaptativa são altamente específicos, e mutações que levem a mudanças nas proteínas reconhecidas pelos anticorpos podem diminuir a eficácia da proteção por estas moléculas do sistema imunológico. Entender o quanto a imunidade gerada em resposta a linhagens mais antigas é capaz de prevenir ou reduzir a gravidade dos sintomas associados à infecção por linhagens que carreguem mutações de preocupação é fundamental para a formulação de novas vacinas, bem como para a tomada de decisão em relação a medidas para conter o espalhamento viral.
O artigo aqui resumido, fruto da cooperação internacional entre grupos de pesquisa de diversas instituições, incluindo a Fiocruz, foca-se em compreender o quanto da proteção pela resposta imune adaptativa se mantém frente à exposição às linhagens B.1.617.1 e B.1.617.2, através dos chamados ensaios de neutralização, nos quais partículas virais ativas são incubadas junto ao soro de pessoas vacinadas ou convalescentes, e posteriormente verifica-se se houve uma redução parcial ou completa na capacidade de infectar células em cultura. Os resultados indicam que, apesar de não exibir um escape completo dos anticorpos — ou seja, algumas regiões da proteína Spike, envolvida na invasão de células pelo vírus, mantiveram sua estrutura conservada o bastante para que anticorpos se ligassem a ela — as linhagens B.1.617 ainda assim tiveram uma neutralização reduzida pelos anticorpos. Isto indica que mesmo pessoas vacinadas ou infectadas com linhagens do princípio da pandemia não estão livres de serem reinfectadas por estas linhagens de variantes, apesar de o escape imunológico não ser tão grande quanto em outras variantes, como a B.1.351 e a VOC Gama (P.1). Estes resultados indicam que novos esquemas vacinais, que tenham em sua composição um leque mais amplo de variantes contendo mutações, podem resultar em uma proteção mais efetiva à população.
Liu C, Ginn HM, Dejnirattisai W, Supasa P, Wang B, Tuekprakhon A, Nutalai R, Zhou D, Mentzer AJ, Zhao Y, Duyvesteyn HME, López-Camacho C, Slon-Campos J, Walter TS, Skelly D, Johnson SA, Ritter TG, Mason C, Costa Clemens SA, Gomes Naveca F, Nascimento V, Nascimento F, Fernandes da Costa C, Resende PC, Pauvolid-Correa A, Siqueira MM, Dold C, Temperton N, Dong T, Pollard AJ, Knight JC, Crook D, Lambe T, Clutterbuck E, Bibi S, Flaxman A, Bittaye M, Belij-Rammerstorfer S, Gilbert SC, Malik T, Carroll MW, Klenerman P, Barnes E, Dunachie SJ, Baillie V, Serafin N, Ditse Z, Da Silva K, Paterson NG, Williams MA, Hall DR, Madhi S, Nunes MC, Goulder P, Fry EE, Mongkolsapaya J, Ren J, Stuart DI, Screaton GR. Reduced neutralization of SARS-CoV-2 B.1.617 by vaccine and convalescent serum.