Estudo com participação de membros da Rede Genômica Fiocruz desenvolve um modelo para estudo de mecanismos da imunidade contra o SARS-CoV-2
Um dos aspectos relevantes para o desenvolvimento do quadro clínico da COVID-19 é entender como a resposta inflamatória desencadeada pela presença do vírus contribui para o agravamento dos sintomas respiratórios e do estado geral de saúde dos pacientes, com evidências iniciais do envolvimento de mecanismos inflamatórios no desenvolvimento de sintomas neurológicos, por exemplo. Adicionalmente, as febres altas e resposta inflamatória generalizada também podem levar a consequências sistêmicas, não restritas apenas ao epitélio respiratório. Portanto, modelos que permitam estudar como a infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 afeta os mecanismos da resposta imunológica são de suma importância para melhor entender o quadro clínico de casos graves e detectar mecanismos relevantes que podem se tornar alvo para o teste de medicamentos que modulem a resposta imunológica de pacientes para evitar ou manejar casos graves da COVID-19.
O artigo aqui resumido apresenta um modelo desenvolvido em laboratórios da Fiocruz para estudar a resposta imunológica ao novo coronavírus in vitro. O modelo foi testado tanto com a infecção por partículas virais viáveis quanto com a estimulação apenas pela proteína Spike isolada, e envolveu a análise de células do sistema imunológico envolvidas na chamada “resposta celular”, as células mononucleares do sangue periférico (PBMC). Além de estudar os efeitos da infecção ou da proteína Spike no metabolismo destas células — incluindo a caracterização de fatores produzidos por elas em resposta ao vírus, como as chamadas “citocinas pró-inflamatórias” que ativam outras células e mecanismos da inflamação — o estudo também verificou como os produtos desse metabolismo, como as próprias citocinas, afetam células pulmonares, também em cultura de células. Os pesquisadores envolvidos no estudo verificaram que a resposta imunológica de pessoas que já haviam passado por uma infecção e tinham memória imunológica da resposta contra o vírus geraram efeitos diferentes nas células pulmonares, em comparação à resposta obtida com o sangue periférico de doadores que não haviam sido infectados pelo vírus antes do estudo. Adicionalmente, o modelo proposto pode embasar pesquisas futuras focadas no papel da resposta inflamatória no desfecho clínico de infecções pelo SARS-CoV-2.
Melgaço, J.G.; Azamor, T.; Silva, A.M.V.; Linhares, J.H.R.; dos Santos, T.P.; Mendes, Y.S.; de Lima, S.M.B.; Fernandes, C.B.; da Silva, J.; de Souza, A.F.; Tubarão, L.N.; Brito e Cunha, D.; Pereira, T.B.S.; Menezes, C.E.L.; Miranda, M.D.; Matos, A.R.; Caetano, B.C.; Martins, J.S.C.C.; Calvo, T.L.; Rodrigues, N.F.; Sacramento, C.Q.; Siqueira, M.M.; Moraes, M.O.; Missailidis, S.; Neves, P.C.C.; Ano Bom, A.P.D. Two-Step In Vitro Model to Evaluate the Cellular Immune Response to SARS-CoV-2.