Estudo em fase inicial (preprint) tenta entender as diferenças no espalhamento das VOCs Delta e Ômicron no Amazonas
Variantes do coronavírus pandêmico SARS-CoV-2, em especial aquelas classificadas como Variantes de Preocupação (VOC), demonstraram um padrão de espalhamento na forma de “ondas” epidêmicas, nas quais uma VOC é substituída pela outra no cenário epidemiológico. Tanto em padrões globais quando localmente, essas substituições de uma variante por outra estão associadas a diferenças no espalhamento e na capacidade de infectar pessoas que já possuem anticorpos contra outras linhagens do vírus, ou seja, o escape imunológico. Entender como estes processos acontecem é importante para avaliar o papel de campanhas de imunização no espalhamento do vírus e na proteção contra casos graves e óbitos. Isto também permite compreender a evolução viral em um cenário composto por hospedeiros com diferentes situações de imunização contra o vírus (não-imunizados, imunidade pós–infecção, imunidade pós-vacina e imunidade híbrida).
Um estudo em fase inicial publicado por pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz no repositório de preprints MedRxiv focou-se em investigar características das duas “ondas” sucessivas de espalhamento das VOCs Delta e Ômicron no estado do Amazonas, onde o impacto do SARS-CoV-2 foi alto na população. Com base na análise do genoma de 4.128 amostras do vírus coletadas de pacientes entre Julho de 2021 e Janeiro de 2022, os pesquisadores conseguiram estudar alguns aspectos das dinâmicas de substituição da Delta pela Ômicron no estado.
Apesar de as duas linhagens do coronavírus terem apresentado um cenário semelhante, no que diz respeito a múltiplas introduções em diferentes localidades do estado, elas tiveram dinâmicas de espalhamento muito diferentes, com a estimativa de que a VOC Ômicron se disseminou aproximadamente 3,3 vezes mais rápido do que o Delta. Outra diferença importante é que, enquanto a VOC Delta substituiu a Gama no estado sem causar um aumento significativo no número de casos de COVID-19, a onda da Ômicron trouxe consigo uma grande expansão de novos casos. Apesar disto, a VOC Ômicron teve uma onda de menor duração, e a expansão no número de casos não foi acompanhada do aumento de mortalidade observado nas ondas de VOCs anteriores como a B.1.* e Gama, sugerindo que o cenário de altos níveis de imunidade híbrida — ou seja, pessoas que tiveram produção de mecanismos imunes como anticorpos tanto em resposta a infecções quanto às vacinas — foi capaz de limitar o espalhamento e a gravidade dos casos de COVID-19 associados à Ômicron no estado.
Ighor Arantes, Gonzalo Bello, Valdinete Nascimento, Victor Souza, Arlesson da Silva, Dejanane Silva, Fernanda Nascimento, Matilde Mejía, Maria Júlia Brandão, Luciana Gonçalves, George Silva, Cristiano Fernandes da Costa, Ligia Abdalla, João Hugo Santos, Tatyana Costa Amorim Ramos, Chayada Piantham, Kimihito Ito, Marilda Mendonça Siqueira, Paola Cristina Resende, Gabriel Luz Wallau, Edson Delatorre, Tiago Gräf, Felipe Naveca
medRxiv 2022.09.21.22280193