Artigo elaborado por grupo da Rede Genômica Fiocruz analisa os padrões genômicos e geográficos do coronavírus pandêmico no estado de Pernambuco
Além de ter sido um dos países mais afetados pela pandemia de COVID-19, o Brasil também teve um cenário com muitas dinâmicas diferentes de espalhamento do vírus. Isso se deu por conta de ser um país de dimensões continentais e também por diferenças socioeconômicas e culturais que influenciaram tanto a possibilidade de aderir a políticas de isolamento e distanciamento social quanto o acesso à testagem, prevenção, manejo dos sintomas e adesão à campanha de imunização contra a doença. Desta maneira, trabalhos de pesquisa voltados a entender como o coronavírus causador da COVID-19 se comportou em diferentes estados são importantes para o planejamento de políticas públicas de saúde e fortalecimento de infraestrutura para manejar eventuais crises de saúde pública que possam ocorrer no futuro.
O artigo ao qual este resumo se refere teve exatamente este objetivo, analisando 1.389 genomas do vírus SARS-CoV-2 de amostras coletadas entre junho de 2020 e agosto de 2021 no estado de Pernambuco. Com essa amostragem, os pesquisadores conseguiram estudar o espalhamento do vírus durante os períodos de dominância de várias linhagens do vírus, como B1.1, B.1.1.28 e B.1.1.3 em 2020, assim como a emergência da variante P.2 e sua substituição rápida pela P.1 (Gama) e depois pela B.1.617.2 (Delta), já em 2021.
As primeiras infecções confirmadas no estado de PE ocorreram em 28 de fevereiro de 2020, em um casal de idosos que retornavam de uma viagem à Itália, e foram relatadas no dia 12 de março. A partir daí, as dinâmicas de circulação de linhagens se deram conforme descrito acima, com linhagens B dominando o cenário no estado até novembro de 2020, sendo então substituídas pela variante P.2. Rapidamente, com a chegada da variante P.1 (Gama) no estado em fevereiro de 2021, a P.2 foi substituída. Múltiplas linhagens da variante Gama continuaram a dominar o cenário do estado durante o ano de 2021.
Ainda em janeiro de 2021, antes da chegada da variante Gama, as campanhas de vacinação se iniciaram no estado. Com um processo demorado de liberação de novos lotes, o estado de Pernambuco teve um cenário no qual apenas 25% da população estava vacinada em agosto de 2021. Com isso, o cenário de hospitalizações e óbitos no estado manteve-se grave durante mais tempo, com uma circulação prolongada da Gama e, após julho, a B.1.617.2 (Delta). O artigo permitiu também verificar que o vírus se espalhou da região leste do estado para a região oeste, ou da Região Metropolitana de Recife para cidades mais interioranas e menos populosas, como é esperado para o espalhamento de doenças infecciosas. Estudos como este chamam atenção para a importância de medidas eficazes e rápidas para imunização — assim que esta se torna disponível — além de permitir que medidas não-farmacológicas como o uso de máscaras e o distanciamento social sejam adotadas pela população, caso se queira evitar cenários de hospitalização e óbito similares em emergências de saúde no futuro.
Machado, L. C., Dezordi, F. Z., de Lima, G. B., de Lima, R. E., Silva, L. C. A., Pereira, L. D. M., … Siqueira, M. M., Resende, P. C., Delatorre, E., Naveca, F. G., Miyajima, F., Gräf, T., Carmo R. F., Pereira, M. C., Campos T. L., Bezerra, M. F., Paiva, M. H. S., Wallau, G. L. & Fiocruz COVID-19 Genomic Network. (2024). Spatiotemporal transmission of SARS-CoV-2 lineages during 2020–2021 in Pernambuco—Brazil. Microbiology Spectrum, e04218-23.