Artigo publicado na Scientific Reports com participação de membros da Rede Genômica Fiocruz avalia o quanto esquemas vacinais protegem ao longo do tempo contra novas variantes
Compreender como os níveis de anticorpos decaem ao longo do tempo após uma infecção ou vacinação é de extrema importância para que se planejem os reforços vacinais de maneira a manter a população protegida e impedir um rápido recrudescimento de uma epidemia ou pandemia. Para entender o fenômeno da manutenção ou perda da proteção no curto, médio e longo prazo, são muito importantes os chamados “dados de mundo real” — ou seja, dados de pessoas voluntárias selecionadas após a aplicação dos imunizantes já ter sido aprovada, com base em testes prévios em um número menor de pessoas, e implementada na realidade. Estes dados de mundo real, por permitirem uma amostragem mais ampla, levam a uma compreensão melhor sobre a eficácia dos imunizantes em uma população mais variada, além de permitirem o acompanhamento por um intervalo de tempo maior do que o das fases iniciais de teste antes da aprovação.
O artigo aqui resumido, publicado no periódico Scientific Reports do grupo Nature e elaborado com participação de membros da Rede Genômica Fiocruz, foca-se nas respostas fornecidas pelo acompanhamento de 524 pacientes de diversas faixas etárias, que tiveram amostras de soro coletadas periodicamente após eventos de infecção e/ou aplicações de doses de imunizantes para a dosagem de anticorpos e ensaios de neutralização — onde é analisada a capacidade do soro de bloquear a infecção por partículas virais viáveis, devido à ação de anticorpos neutralizantes sobre a proteína Spike. Os imunizantes avaliados foram os fabricados pela SinoVac (CoronaVac), a Oxford-AstraZeneca e a Pfizer-BioNTech, e foram avaliados também os efeitos de duas doses de reforço na manutenção de níveis mais altos de anticorpos. O estudo permitiu concluir que a dosagem de anticorpos tem uma queda mais pronunciada em pessoas acima de 60 anos, e que a capacidade de bloqueio da VOC Ômicron BA.1 foi reduzida em comparação à capacidade de bloqueio de outras variantes. Adicionalmente, a resposta à primeira dose de reforço teve um efeito mais pronunciado do que o da segunda dose, apesar de as duas terem tido um efeito na manutenção de anticorpos. Este artigo é importante por testar a manutenção da proteção por anticorpos ao longo do tempo, contra variantes distintas, e também para embasar pesquisas futuras que tentem entender estratégias para reforços adicionais, como a combinação de diferentes plataformas vacinais, intervalos de aplicação de doses adicionais, e as variantes que devem compor os imunizantes futuramente.
Espíndola, O.M., Fuller, T.L., de Araújo, M.F. et al. Reduced ability to neutralize the Omicron variant among adults after infection and complete vaccination with BNT162b2, ChAdOx1, or CoronaVac and heterologous boosting. Sci Rep 13, 7437 (2023).