Carta ao editor escrita por pesquisador da Rede Genômica aprofunda o debate sobre os contextos de aplicação de testes rápidos
Recentemente, um grupo de pesquisa situado no Canadá publicou um artigo no qual concluiu que a taxa de falsos-positivos em testes rápidos de detecção do SARS-CoV-2 por antígeno era baixa (apenas 0,05%, ou seja, 5 testes em cada 10 mil resultariam em um falso positivo). Em carta aos editores do periódico JAMA, onde o artigo originalmente foi publicado, um pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz/PE) vinculado à Rede Genômica Fiocruz traz considerações quanto às implicações deste artigo, especialmente levando em conta questões da metodologia adotada e dos potenciais riscos da adoção das recomendações feitas em outros contextos epidemiológicos ou utilizando outros testes.
A carta argumenta que a maneira como o artigo apresenta a informação possui lacunas, especialmente no que diz respeito a informar todos os testes rápidos utilizados para a análise de precisão, uma vez que apenas um fabricante foi citado pelos pesquisadores (teste PanBio). O pesquisador da Rede Genômica ressalta ainda que, apesar da baixa taxa de falsos positivos entre todos os testes aplicados, quando se considera apenas os testes com resultado positivo — ou seja, se excluem da estatística os resultados negativos — o número de falsos positivos aumenta para 46 em cada 100. O número razoavelmente alto de falsa positividade neste contexto não apenas reduz a confiabilidade dos testes, como também pode levar pessoas saudáveis a necessitar de isolamento e passar pelo estresse e preocupação associados a um resultado positivo para o novo coronavírus. Esta alta taxa de falso positivo se dá devido a amostragem utilizada, de pessoas assintomáticas (grupo de baixa incidência da doença). Isso não reduz a importância do uso desses testes, mas reforça a recomendação da OMS de confirmar por PCR resultados positivos em populações de baixa incidência.
Além de contribuir para um debate acadêmico orgânico e em constante revisão, esta carta acrescenta novos ângulos a se considerar no que diz respeito a políticas de testagem e prevenção, bem como seus impactos para a vida da população e para a vigilância de doenças de maneira geral.
Bezerra M. F. (2022) Rapid Antigen Tests for SARS-CoV-2. JAMA, ;327(19):1925–1926.
DOI: https://doi.org/10.1001/jama.2022.4466