Como o Novo Coronavírus circula entre nossos animais de estimação?
O novo coronavírus SARS-CoV-2, causador da pandemia atualmente enfrentada pela humanidade em escala global, se adaptou ao organismo humano e tornou-se capaz de causar a doença e ser transmitido de pessoa a pessoa, mas sua origem primária se dá em populações de morcegos asiáticos. Adicionalmente, acredita-se que outra espécie de mamífero intermediária esteve envolvida, tendo ocorrido primeiro uma adaptação do morcego para este outro mamífero, a partir do qual o vírus acumulou novas mutações e “saltou” para a espécie humana (fenômeno também chamado de infecção por transbordamento). Desta forma, investigar a capacidade do SARS-CoV-2 de causar infecção e circular entre outras espécies animais, em especial aquelas que vivem em maior proximidade com o ser humano, como cães e gatos domésticos, torna-se uma questão de pesquisa importante: não apenas pode-se a partir desta vigilância monitorar os fatores de risco e impedir um possível “salto” adicional para estas outras espécies, como também entender o papel dos animais domésticos no espalhamento da epidemia.
O presente artigo, publicado no periódico de acesso livre PLOS One, investigou a presença de sintomas, RNA viral e anticorpos contra o SARS-CoV-2 em 29 cães e 10 gatos que moram com pacientes com histórico de COVID-19 na cidade do Rio de Janeiro. Destes, 9 cães (31%) e 4 gatos (40%), de 10 das 21 residências analisadas no estudo apresentaram sintomas de infecção ou foram soropositivos para o SARS-CoV-2. Foram coletadas amostras dos animais quinzenalmente, além de avaliados aspectos de sua condição de saúde, de forma a possibilitar uma estimativa do intervalo de tempo entre o primeiro caso confirmado de COVID-19 nos pacientes humanos e o primeiro teste positivo nos pets. Os animais testaram positivo entre 11 e 51 dias, em média, após os primeiros sintomas no paciente zero de cada residência. A coleta de mais de uma amostra permitiu também a identificação de três casos de cães que testaram positivo duas vezes (com intervalos de 14, 30 e 31 dias entre a primeira e a segunda testagem positiva), bem como a detecção de anticorpos em um cão (3,4% dos casos) e dois gatos (20%). Dos treze animais infectados ou soropositivos para o SARS-CoV-2, seis desenvolveram sintomas moderados da doença, mas seus quadros foram reversíveis.
Além de demonstrar que pets podem contrair o SARS-CoV-2, o estudo identificou entre possíveis fatores de risco que animais castrados têm maior chance de serem infectados por seus donos, assim como aqueles que dormem na mesma cama que os humanos. Isto permite a recomendação importante de que pessoas que testem positivo para o novo coronavírus evitem proximidade excessiva com seus animais de estimação.
Calvet, G. A., Pereira, S. A., Ogrzewalska, M., Pauvolid-Corrêa, A., Resende, P. C., Tassinari, W. D. S., … & Menezes, R. C. Investigation of SARS-CoV-2 infection in dogs and cats of humans diagnosed with COVID-19 in Rio de Janeiro, Brazil