Estudo em fase inicial (pre-print) revela um aumento da circulação de um genótipo do Dengue Vírus 2 recém-introduzido no Brasil
Assim como a maioria dos vírus conhecidos, o Dengue Vírus tem linhagens com diferentes características genéticas que resultam em variantes ligeiramente distintas. Estas diferenças podem resultar em vírus que não são encarados como iguais pelo sistema imunológico, por terem variações nas estruturas reconhecidas por eles — como os chamados “antígenos”, que são as moléculas-alvo de anticorpos. A classificação de vírus com base nesses diferentes perfis envolve a descrição dos chamados “sorotipos”, que têm perfis antigênicos diferentes entre si.
Mesmo dentro de um determinado sorotipo, pequenas diferenças genéticas podem resultar em diferentes níveis de escape imunológico, fenômeno no qual a imunidade adquirida contra um genótipo não protege completamente contra a infecção por outro. Desta forma, vigiar constantemente a circulação e introdução de novos sorototipos e genótipos é importante para informar políticas de prevenção e embasar respostas rápidas quando estas forem necessárias.
O estudo em estágio inicial de publicação (pre-print) aqui resumido traz uma série de dados de vigilância e análises filogenéticas para reconstruir o panorama de introdução e circulação do Dengue Vírus Sorotipo 2 Genótipo II (DENV-2-GII) no território brasileiro, onde o cenário epidemiológico é historicamente dominado pelo Sorotipo 2 Genótipo III (DENV-2-GIII). A primeira amostra do DENV-2-GII detectada no Brasil data de 2021, e até março de 2023 — período de amostragem do estudo — este genótipo já estava circulando em todas as regiões o país. As análises do estudo permitiram a reconstrução da história da linhagem, apontando que ela emergiu no Peru em 2019 e foi introduzida no Brasil pelo menos quatro vezes, independentemente.
O artigo ainda chama atenção para o fato de que a vigilância genômica do Dengue Vírus no Brasil tem uma cobertura muito baixa, o que significa um ponto frágil no conhecimento e nas possibilidades de resposta a um eventual aumento de circulação de um destes genótipos na população. Um fortalecimento da vigilância em escala nacional seria de extrema importância para ter um panorama mais preciso da circulação de variantes e entender como o DENV-2-GII se insere no panorama epidemiológico do país, tendo em vista a circulação e a imunidade prévia da população ao DENV-2-GIII.
GRAF, Tiago et al. Multiple introductions and country-wide spread of DENV-2 genotype II (Cosmopolitan) in Brazil. medRxiv, p. 2023.06. 06.23290889, 2023.