O quanto a resistência a antivirais em amostras brasileiras de Influenza A é uma preocupação atual?
O vírus Influenza A, um dos causadores da gripe comum, é um patógeno de grande importância para a vigilância, uma vez que causa epidemias regulares e tem potencial pandêmico, tendo sido responsável por uma das pandemias mais desastrosas da história humana em 1918. Além da constante vigilância epidemiológica e genômica do vírus no sentido de detectar padrões de circulação, formular vacinas e vigiar a circulação de genes relevantes para a transmissibilidade do vírus, o monitoramento do Influenza A também tem se focado cada vez mais em outra questão: a detecção e acompanhamento de genes associados à resistência contra a principal classe de antivirais utilizados para o controle da infecção, os inibidores de neuraminidase (NAI, do inglês Neuraminidase Inhibitors).
O artigo ao que este resumo se refere, produzido com participação de membros da Rede Genômica Fiocruz, tinha como objetivo estudar a presença e estimar a incidência de genes de resistência, em amostras de Influenza A circulantes no Brasil entre 2017 e 2019, ao NAI oseltamivir, um dos mais utilizados no país para o tratamento da gripe. A equipe responsável pela pesquisa avaliou 282 amostras de Influenza A(H1N1)pdm09 e 455 de Influenza A(H3N2) disponíveis no banco de dados do GISAID, além de terem avaliado a presença de uma das mutações diretamente em 437 amostras de A(H1N1)pdm09 através da técnica de pirosequenciamento. Adicionalmente, os pesquisadores testaram in vitro a susceptibilidade de 222 amostras de Influenza A(H1N1)pdm09 e 83 amostras de A(H3N2) ao oseltamivir.
O estudo permitiu inferir que a circulação de genes de resistência a NAIs no país é baixa, e as amostras testadas in vitro mantiveram a suscetibilidade ao antiviral mais utilizado no país. Estes achados estão em concordância com o cenário mundial de baixa incidência de resistência em amostras de Influenza A, indicando que esta classe de drogas segue como uma boa opção para o tratamento. O artigo chama atenção, porém, para a importância de manter uma vigilância constante e robusta destes genes, tanto para aumentar a representatividade da amostragem no país quanto para detectar rapidamente um eventual aumento na incidência de mecanismos de resistência antes que estes se tornem um problema de saúde coletiva.
Sousa, Thiago das Chagas, et al. “Low prevalence of influenza A strains with resistance markers in Brazil during 2017–2019 seasons.” (2022).