O que as redes de tratamento de água e esgoto podem contar sobre as epidemias? Estudo com parceria da Rede Genômica Fiocruz mapeia genomas do SARS-CoV-2 em amostras de esgoto de Niterói/RJ
O monitoramento de agentes causadores de doenças nos sistemas públicos de águas residuais, como esgotos domésticos e rejeitos de indústria, pode ser uma ferramenta valiosa no monitoramento epidemiológico. A prática, conhecida como “epidemiologia de esgotos”, tem sido utilizada como uma fonte adicional de informação a respeito do espalhamento de doenças como a COVID-19, especialmente em localidades nas quais há dificuldades logísticas e financeiras para a testagem direta em massa da população. Do ponto de vista da saúde pública, monitorar águas de esgoto pode fornecer respostas rápidas para informar medidas de controle epidêmico. O presente artigo relata os métodos e resultados da aplicação da epidemiologia de esgotos a amostras colhidas em poços de visita de esgotos sanitários e estações de tratamento de esgoto da cidade de Niterói/RJ, totalizando 223 amostras coletadas ao longo de 20 semanas.
A análise das amostras permitiu não apenas detectar a presença do RNA viral, mas também a obtenção de dados quantitativos sobre o número de cópias do vírus presentes nas amostras. A análise de amostras de estações de tratamento trouxe melhores respostas a respeito da evolução das curvas de contágio do vírus, enquanto as amostras de canos foram mais úteis para a implementação e o monitoramento de intervenções locais de saúde pública. O estudo permitiu ainda identificar a linhagem à qual pertenciam as amostras do SARS-CoV-2 encontradas (B.1.1.33) e a construção de mapas semanais de monitoramento de risco, evidenciando o quanto esta abordagem é útil para o combate à atual pandemia em diversas frentes.
Prado T, Fumian TM, Mannarino CF, Resende PC, Motta FC, Eppinghaus ALF, et al. Wastewater-based epidemiology as a useful tool to track SARS-CoV-2 and support public health policies at municipal level in Brazil. Water Res. 2021;191:116810.