Pesquisa com colaboração de membros da Rede Genômica Fiocruz avalia os efeitos protetivos da vacina trivalente de Influenza aplicada no Brasil
Um dos mais importantes mecanismos de combate ao vírus Influenza, causador da gripe, é a vacinação, que pode prevenir casos graves, hospitalizações, sequelas e óbitos. Para que sejam efetivas, vacinas como a trivalente (aplicada no Brasil) devem ser revisadas anualmente, para acompanhar a rápida mutação de vírus Influenza e a diminuição da resposta imunológica ao longo do tempo. Mutações podem resultar em antígenos diferentes dos presentes nas linhagens utilizadas para a formulação da vacina, o que reduz a proteção frente a amostras circulantes que tenham essas diferenças antigênicas. Além das mutações, fatores de cada pessoa vacinada também afetam a efetividade da vacina, como a idade e a memória imunológica de vacinações ou contágios anteriores pelo vírus, de forma que o teste da efetividade das vacinas em uma população determinada é a melhor maneira de entender o quanto as campanhas de imunização se adequam às necessidades de cada país.
O artigo aqui resumido é fruto da avaliação da resposta sorológica à vacina tríplice aplicada no hemisfério sul, nas versões dos anos de 2018 a 2020. O estudo foi focado em um grupo de 117 voluntários brasileiros e utilizando-se de ensaios de neutralização da hemaglutinina (proteína do vírus influenza responsável pela adesão às células antes da invasão) pelo soro dos voluntários antes e depois da vacinação em cada ano. Entre estes voluntários, a taxa de soroproteção — ou seja, a proporção de pessoas cujo soro foi capaz de neutralizar a ação da hemaglutinina — após a vacina foi superior a 83%. A soroconversão, que é a presença de níveis detectáveis de anticorpos específicos para antígenos virais — variou entre 10% e 46%, com um aumento significativo tanto na quantidade de anticorpos quanto na soroproteção, ambos associados à aplicação da vacina trivalente.
O artigo descreve também respostas imunológicas cruzadas, que é o nome dado ao fenômeno de a resposta a um vírus ou linhagem viral proteger também contra outro vírus ou linhagem. Esta resposta cruzada foi percebida principalmente entre subtipos de Influenza A H1N1. Os pesquisadores destacam ainda a redução de níveis de anticorpos no soro e da própria soroproteção aos 6 e aos 12 meses após a vacinação, com um efeito muito mais pronunciado do que a idade dos voluntários sobre a proteção contra o vírus. A constante realização de estudos com o objetivo de avaliar a proteção pela vacina trivalente frente à realidade da circulação de amostras no Brasil é importante para o constante refinamento das estratégias de imunização no país.
Capão, A., et al. “Analysis of Viral and Host Factors on Immunogenicity of 2018, 2019, and 2020 Southern Hemisphere Seasonal Trivalent Inactivated Influenza Vaccine in Adults in Brazil.” Viruses 14.8 (2022): 1692.