Publicação de pesquisa em estágio inicial (preprint) alerta para potencial risco de uma nova linhagem do Dengue Vírus 3 Sorotipo III no Brasil
A história de vírus transmitidos por mosquitos e sua coexistência com a espécie humana é longa, remontando a tempos remotos. Ao longo das latitudes tropicais, vírus como o da Dengue causam problemas de saúde pública em diversos países, seja pela ampla distribuição geográfica de seus insetos vetores, seja pela adaptação a novas espécies de mosquito. Mais recentemente, têm-se estudado e compreendido melhor os fluxos de introdução de novas linhagens ao longo desta faixa latitudinal, o que é importante para monitorar a circulação e traçar estratégias para o controle de linhagens associadas a um maior risco de surtos locais. Por exemplo, a reintrodução em uma área de uma linhagem viral que não circula localmente por mais de uma década pode trazer um aumento no número e na gravidade de casos, devido à ausência de uma memória imunológica na população residente.
O artigo aqui resumido, atualmente em status de pre-print, alerta para um possível cenário similar no Brasil, a partir do isolamento de amostras pertencentes a uma nova linhagem viral do vírus Dengue 3, sorotipo III, que não circula expressivamente no país desde a década de 2000. A publicação é fruto da cooperação entre várias unidades da Fiocruz, incluindo equipes vinculadas à Rede Genômica, LACEN-RR, LACEN-PR, IEC, FMT-HVD, UFES, Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine, US/CDC, e o Florida Department of Health. Partindo de três amostras isoladas em Roraima e uma quarta introduzida no Paraná, a equipe por trás da pesquisa conseguiu sequenciar e analisar o genoma, constatando se tratar de uma linhagem filogeneticamente compatível com as que circulam e têm provável origem na Ásia, subcontinente Indiano. Os pesquisadores também chegaram à conclusão de que é improvável que esta linhagem, batizada de DENV-3 GIII-American-II descenda da primeira linhagem introduzida no Brasil e em outros países da América latina nos anos 1990, chamada DENV-3 GIII-American-I, tanto pelo fato de não haver evidências da circulação continuada da DENV-3 GIII-American-I desde a década de 2010 quanto pela proximidade do genoma da nova linhagem com amostras mais recentes oriundas de países da região asiática.
Por se tratar da reintrodução de um sorotipo de Dengue há muito tempo sem circulação no país, o risco à saúde pública deve ser considerado, e a equipe responsável pelo artigo reforça a importância de se intensificar a vigilância, tanto na Região Norte quanto no resto do território brasileiro, para detecção precoce de movimentações da linhagem viral no país, bem como manutenção de um monitoramento contínuo do vírus e de seus impactos à saúde coletiva.
Felipe Gomes Naveca, Gilberto A Santiago, Rodrigo Melo Maito, Cátia Alexandra Ribeiro Meneses, Valdinete Alves do Nascimento, Victor Costa de Souza, Fernanda Oliveira do Nascimento, Dejanane Silva, Matilde Mejía, Luciana Gonçalves, Regina Maria Pinto de Figueiredo, Ana Cecília Ribeiro Cruz, Bruno Tardelli Diniz Nunes, Mayra Marinho Presibella, Nelson Fernando Quallio Marques, Irina Nastassja Riediger, Marcos César Lima de Mendonça, Fernanda de Bruycker-Nogueira, Patricia C Sequeira, Ana Maria Bispo de Filippis, Paola Resende, Tulio Campos, Gabriel Luz Wallau, Tiago Gräf, Edson Delatorre, Edgar Kopp, Andrea Morrison, Jorge L. Muñoz-Jordán, Gonzalo BellomedRxiv 2023.05.03.23288351;