Publicação traz análise genômica de amostras de gripe aviária isoladas de mamíferos semi-aquáticos e aves no Uruguai
A vigilância de patógenos que podem pôr em risco populações humanas é de grande importância. Parte de uma vigilância efetiva é o monitoramento de microrganismos, parasitos e vírus que circulam entre animais silvestres, na medida em que muitas doenças de impacto relevante à saúde coletiva, como a própria COVID-19, têm origem zoonótica. Apesar da importância estratégica da vigilância de populações de animais não-domesticados, este enfoque de vigilância epidemiológica e genômica é muitas vezes realizado de forma menos abrangente do que a vigilância em animais domésticos e nas populações humanas.
O artigo aqui resumido, fruto de uma cooperação internacional de pesquisadores, incluindo membros da Rede Genômica Fiocruz, investiga o genoma de amostras do vírus Influenza aviária A H5N1 isoladas tanto de aves quanto de mamíferos semi-aquáticos no Uruguai. A análise do genoma destas amostras, classificadas dentro de um clado altamente patogênico de Influenza — ou seja, variantes pertencentes a um grande grupo geneticamente relacionado e associado a quadros graves da doença — é importante, pois o fato de haver casos em mamíferos é um ponto de atenção para uma possível capacidade deste clado de causar infecção comunitária na espécie humana.
A equipe responsável pelo artigo conseguiu caracterizar o genoma de dezesseis cepas do vírus, provenientes de leões marinhos, lobos-marinhos-sul-americanos e trinta-réis-de-bico vermelho, chegando à conclusão de que os mamíferos pinípedes (grupo do qual os leões-marinhos, lobos-marinhos e focas fazem parte) são os prováveis hospedeiros ancestrais do vírus. Aparentemente, esse grupo altamente patogênico de linhagens do Influenza H5N1 foi introduzido recentemente no território Uruguaio, mas já vem circulando entre mamíferos pinípedes. Além de representarem um argumento em favor da vigilância de vírus em populações de animais nativos, os achados do estudo apontam para um risco potencial de transbordamento, uma vez que um vírus Influenza que circula em mamíferos está alguns passos evolutivos mais próximo da capacidade de infectar seres humanos.
Tomás, G et al. (2024). Highly pathogenic avian influenza H5N1 virus infections in pinnipeds and seabirds in Uruguay: Implications for bird–mammal transmission in South America. Virus Evolution, 10(1): veae031 Available online: <https://doi.org/10.1093/ve/veae031>;