Publicado no periódico The Lancet, um dos maiores do mundo, um artigo de comentário sobre a vigilância global de arboviroses
Conhecidas pela humanidade há séculos, as arboviroses, causadas por vírus denominados arbovírus (do inglês, arthropod-borne viruses, ou doenças transmitidas por artrópodes) vêm sendo cada vez mais reconhecidas globalmente pela comunidade científica e pelas autoridades de saúde como uma questão de grande importância para a saúde coletiva. Essa importância não é restrita a territórios na região tropical, onde as arboviroses circulam com maior expressividade: com as evidências de mudanças na distribuição de insetos vetores como os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus relacionadas às mudanças climáticas — com a capacidade de populações de mosquito de se estabelecerem em áreas mais altas e fora da região intertropical — o monitoramento destas doenças historicamente negligenciadas ganha destaque global cada vez maior. E mesmo em países onde os insetos já ocorriam, verões mais quentes e mais longos têm levado a temporadas mais longas de transmissão de doenças como a Dengue, Zika, Chikungunya e febre amarela, além de aumento no número de casos em locais que registravam apenas casos eventuais.
Um artigo de comentário, publicado no periódico The Lancet e assinado por um pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães e membro da Rede Genômica Fiocruz comenta este cenário, trazendo um resumo de ações já propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e projetos já em curso idealizados por outros órgãos. O artigo comenta que, frente à grande expansão da capacidade de sequenciamento de genomas virais que ocorreu em resposta à crise do coronavírus pandêmico SARS-CoV-2, a OMS tem promovido uma série de ações, incluindo a Iniciativa Global de Arbovírus lançada em 2022. A ideia é que a estrutura de redes de sequenciamento, análise e compartilhamento de dados sobre genomas existente após a recente pandemia seja aproveitada para uma vigilância tão contundente quanto, focada em arboviroses. Esta é uma forma de monitorar tendências na evolução destes vírus, e detectar precocemente o surgimento de linhagens dotadas de maior potencial para causar epidemias em maior escala. A publicação também comenta a criação de uma base de dados específica para arbovírus no GISAID, a EpiArbo, parte das ações globais de colaboração de pesquisa e enfrentamento ao risco apresentado por este grupo de patógenos. A base de dados EpiArbo foi construída em parceria com a Rede Genômica Fiocruz, e permitirá o compartilhamento de dados genômicos de vírus como Dengue e Chikungunya com agilidade e segurança.
As estimativas epidemiológicas sugerem que metade da população mundial está em risco para infecções pelo vírus da Dengue, com o número anual de casos estimado entre 100 e 400 milhões, levando a aproximadamente 20 mil mortes. A expansão da área de ocorrência dos mosquitos pode aumentar estes números, com modelos que estimam um acréscimo de mais 100 milhões de pessoas em risco pelos próximos cinquenta anos.
Wallau, G. (2023). Arbovirus researchers unite: expanding genomic surveillance for an urgent global need. The Lancet, Published Online.