Rede Genômica Fiocruz investiga expansão do chikungunya no RS
Em parceria com instituições de pesquisa e vigilância do Rio Grande do Sul e o Centro Nacional de Referência para Doenças Tropicais Infecciosas em Hamburgo, na Alemanha, pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz investigaram casos confirmados de chikungunya no Rio Grande do Sul (RS) entre 2017 e 2021, dando um alerta para o que parece ser um rápido crescimento do vírus na região. O estudo, publicado em artigo científico na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, descreve que, com os primeiros casos suspeitos no estado datando de 2016, uma maior atenção foi dada para a coleta de amostras de sangue de pacientes que apresentassem sintomas compatíveis com a doença. A partir da análise genômica e filogeográfica destas amostras, a equipe responsável pela pesquisa conseguiu caracterizar os primeiros casos entre 2017 e 2020 como importações de outros estados sem indício de transmissão autóctone.
“Em 2021 ocorreu o primeiro grande surto no estado, no município de São Nicolau, no noroeste do RS. Este evento foi caracterizado não apenas pela transmissão autóctone na comunidade, mas por um alto número de casos: 220 casos confirmados, em contraste ao total de 141 casos no estado somados dos quatro anos anteriores”, ressalta Gabriel Wallau, pesquisador da Fiocruz Permabuco que co-liderou o estudo. O esforço de sequenciamento e análise dos genomas também revelou que a linhagem responsável pelo surto de 2021 na região de São Nicolau era uma linhagem diferente das que haviam sido registradas entre 2017 e 2020.
O artigo alerta para um aparente aumento do risco de circulação do vírus chikungunya não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o Cone Sul. Isso devido ao fato de que outros estudos indicam que as condições do clima na região estão tornando-se menos características da zona subtropical, com verões mais quentes e longos, condições propícias para o desenvolvimento do vetor e transmissão viral por um período mais longo de tempo.
Chikungunya
A história de regiões tropicais é marcada há séculos pela circulação de doenças virais transmitidas por insetos, como é o caso da febre amarela e da dengue. Mais recentemente, com a globalização crescente e mudanças ecológicas como a expansão de áreas urbanas e as mudanças climáticas, estes vírus têm sido introduzidos em países e regiões fora de sua área original de distribuição. Este é o caso do vírus chikungunya, vírus com primeiros registros na década de 1950 na Tanzânia e em outros países e regiões do continente africano que chegou ao Brasil na década de 2010.
Com o clima favorável no país, que permite a ampla distribuição de duas espécies de vetores, os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus (especialmente na vasta porção do território que se encontra na faixa intertropical) as introduções pontuais do vírus através de pessoas com histórico de viagem para zonas endêmicas do chikungunya tem se intensificado. Isso pode aumentar as chances do estabelecimento de ciclos de transmissão comunitária em áreas ainda não afetadas.
As primeiras evidências de transmissão autóctone (ou seja, aquelas que ocorreram dentro do país, sem histórico de viagem para regiões endêmicas) são de 2014, marco a partir do qual o vírus tornou-se um ponto de atenção para a saúde pública, em especial nas regiões Norte e Nordeste. Nestas regiões havia sido evidenciada a presença de dois diferentes genótipos do chikungunya, o Asiático-Caribenho (AC) e o Leste-Centro-Sul-Africano (ECSA), respectivamente, com a posterior expansão para as regiões Centro Oeste e Sudeste. Na região Sul, localizada na faixa subtropical, houve poucos indícios da circulação do vírus desde então, mas esta situação tem dado sinais de um aumento na incidência dos casos nos últimos anos.