Variantes do vírus causador da COVID-19 circulando no Brasil são capazes de causar infecções em pessoas que já têm anticorpos para a doença
O primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus formalmente reconhecido pelo Ministério da Saúde se deu em 9 de dezembro de 2020. Este artigo é fruto do processo de revisão por pares e editoração do texto originalmente postado no fórum de discussão de pesquisas em virologia voltado a especialistas, Virological.Org. O trabalho descreve uma série de informações e achados de pesquisa derivados desta reinfecção, além de trazer conclusões a respeito do significado deste evento para a vigilância e combate da pandemia no Brasil.
O caso acometeu uma profissional da saúde de 37 anos, que atendia pacientes na Paraíba, apesar de residir no Rio Grande do Norte. A paciente teve dois episódios clínicos compatíveis com infecção pelo SARS-CoV-2 separados por 116 dias (início dos sintomas da primeira infecção: 17 de junho; segunda infecção: 11 de outubro) e, após sequenciamento e comparação entre amostras destes dois eventos, constatou-se reinfecção, uma vez que a primeira infecção foi causada por um vírus compatível com a linhagem B.1.1.33 e a segunda por um compatível com a linhagem B.1.1.28. Este segundo agente de infecção apresentava ainda a substituição de aminoácidos na proteína S E484K, associada à capacidade de escape de anticorpos gerados em resposta a infecções e à vacinação contra o SARS-CoV-2. Além de demonstrar a circulação de variantes capazes de causar reinfecção no Brasil, a publicação evidencia também a circulação da linhagem B.1.1.28(E484K) fora do estado do Rio de Janeiro, onde acredita-se — com base em reconstruções — que a linhagem tenha se originado inicialmente.
Resende PC, Bezerra JF, Vasconcelos RHT, Arantes I, Appolinario L, Mendonça AC, et al. Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 P.2 lineage associated with reinfection case, Brazil, June–October 2020